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Técnico denuncia: "Ordem era economizar" em testes Infectados por HIV

  • Foto do escritor: Luciano Ricardo Davila
    Luciano Ricardo Davila
  • 15 de out. de 2024
  • 4 min de leitura
Infectados por HIV
Infectados por HIV

Fernandes dos Santos, técnico de laboratório e ex-responsável pelas análises de órgãos para transplante no PCS Lab Saleme, foi preso na última segunda-feira (14) e prestou depoimento revelador à polícia. Em sua declaração, Fernandes trouxe à tona preocupações sérias sobre a forma como o controle de qualidade dos testes de sorologia, incluindo os diagnósticos de HIV, foi comprometido no laboratório onde trabalhava. A denúncia foi divulgada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, e gerou uma onda de indignação.

O que foi revelado

Segundo Fernandes, até dezembro de 2023, o controle de qualidade dos testes de sorologia, fundamentais para garantir a precisão no diagnóstico de doenças como HIV e hepatites, era realizado diariamente. Contudo, no início de 2024, essa rotina foi alterada, e o controle passou a ser feito apenas uma vez por semana. Ele relatou à polícia que essa mudança foi ordenada pela coordenadora do laboratório, Adriana Vargas, com o objetivo de reduzir custos operacionais.

Ainda em seu depoimento, o técnico explicou que essa alteração na frequência do controle de qualidade aumentava o risco de erro nos diagnósticos. "Os reagentes ficam degradados ao permanecerem muito tempo nas máquinas de análise, e o controle diário é fundamental para garantir a precisão dos resultados", disse Fernandes. Ele destacou que a redução no número de controles aumentava a probabilidade de falhas, comprometendo diretamente a segurança dos pacientes.

Fernandes expressou sua preocupação de que a mudança na rotina de controle foi motivada por economia, já que os kits de reagentes utilizados nos testes possuem um custo elevado. Segundo ele, as diretrizes para "economizar" partiram diretamente de Adriana Vargas, responsável pelo laboratório. Ele afirmou ainda que, após observar os procedimentos inadequados, já planejava pedir demissão, mas foi desligado na última sexta-feira antes de tomar a iniciativa.

O impacto nas análises e riscos para pacientes

A redução na frequência dos controles de qualidade é uma questão crítica em laboratórios de análises clínicas, especialmente quando se trata de diagnósticos relacionados a doenças infecciosas como o HIV. Sem o controle adequado, há risco de que testes possam apresentar resultados falsos negativos ou falsos positivos, o que pode ter consequências graves para pacientes e seus tratamentos.

Durante uma coletiva de imprensa sobre o caso, o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, confirmou que as investigações iniciais apontam para falhas operacionais no controle de qualidade dos testes realizados pelo laboratório. “As informações obtidas indicam que houve negligência no controle de qualidade, especialmente nos testes aplicados para o diagnóstico de HIV, com o objetivo de cortar custos e maximizar os lucros”, afirmou Curi.

O secretário também ressaltou que a polícia continua investigando a extensão dos danos causados por essas falhas. O laboratório Ivanilson foi temporariamente interditado, e as autoridades estão revisando os procedimentos de controle em vigor para determinar quantos pacientes podem ter sido impactados por resultados potencialmente imprecisos.

Mudanças na gestão e investigações em andamento

Além da prisão de Fernandes dos Santos, outros funcionários e responsáveis pelo laboratório estão sendo ouvidos pela polícia. O caso ganhou ampla repercussão, e as investigações visam apurar a responsabilidade direta de Adriana Vargas e outros gestores do PCS Lab Saleme, além de avaliar se a negligência pode ser caracterizada como crime contra a saúde pública.

De acordo com fontes internas do laboratório, há indícios de que a prática de "economizar" no controle de qualidade não era restrita aos testes de HIV, mas também afetava outras áreas de análise clínica, incluindo exames de hepatite e outras sorologias. A falha em detectar possíveis doenças de forma correta não apenas compromete a saúde dos pacientes, como pode gerar complicações sérias no sistema de transplantes, que depende de diagnósticos precisos para garantir a segurança dos receptores de órgãos.

O que dizem os especialistas

Especialistas em saúde pública e controle de qualidade laboratorial têm criticado duramente a situação. Para médicos e técnicos de laboratórios, a economia nos controles de qualidade é inaceitável em um setor tão sensível como o das análises clínicas. “O controle diário é um protocolo básico e essencial para evitar erros que podem ser fatais para os pacientes”, comentou o especialista em bioquímica clínica, Dr. Rodrigo Azevedo. Segundo ele, negligenciar essa prática é um risco gravíssimo, especialmente em testes de doenças infecciosas.

Já associações ligadas aos direitos dos pacientes soropositivos manifestaram grande preocupação. Para essas entidades, a precisão dos testes de HIV é vital, não apenas para o tratamento individual dos pacientes, mas também para o controle da transmissão da doença.

O futuro do laboratório

O PCS Lab Saleme enfrenta agora uma crise institucional, com as autoridades sanitárias e jurídicas investigando a profundidade das falhas. Dependendo dos resultados da investigação, o laboratório pode enfrentar sanções severas, incluindo multas pesadas e perda de licenças. Ao mesmo tempo, pacientes que podem ter sido prejudicados por diagnósticos incorretos já estão sendo contatados para realizar novos testes.

O caso acende um alerta sobre a importância de manter rigorosos padrões de controle de qualidade em laboratórios, ressaltando a gravidade de negligências que colocam vidas em risco em nome de economia. A sociedade espera respostas rápidas e medidas eficazes para evitar que esse tipo de falha ocorra novamente.

 
 
 

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